Catolé do Rocha - Paraíba

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Crônica Cão Sem Dono

Por Josivam Alves

Caminha lentamente pelas ruas e avenidas. Tenta se proteger nas praças, em alguns becos, detrás de alguns muros, paredes, esquinas, debaixo de caminhões, carros, em esconderijo qualquer. Sempre aparece alguém que lhe atira pedras, paus, água quente, dá chutes, dirige pragas, impropérios e outras palavras de baixo escalão. É um descanso e falta de respeito pela vida de quem também sente fome, sede, dor, muito sofrimento e que precisa de ajuda.

Cadela retirada das ruas de Catolé
Tem uma hérnia enorme na barriga, que de tão inchada parece ter alcançado o ponto máximo de inflamação. Está magro, desnutrido e se locomove com dificuldade. Em que pese a situação, é constantemente ameaçado nas ruas de Catolé. Quando se acha em perigo, por alguns seres humanos inescrupulosos, tenta fugir para se defender. No entanto, a fuga rápida não é mais possível. A fraqueza e a doença lhe consumiram as forças, debilitando a agilidade dos movimentos. É atacado por inimigos sem aos quais nunca ter feito o mal. Esta é a penúria e a via-sacra de um cachorrinho de tamanho médio que vive a perambular pelas artérias de nossa cidade sem rumo, sem-lenço, sem-documento. E por necessitar de ajuda talvez os donos tenham o abandonado. O mais triste é saber que os homens, que se dizem animais racionais, são os mais irracionais. Atacar um animal indefeso, e que humildemente passa, é, sem dúvida, uma covardia. Existe um adágio popular de que o cachorro é amigo do homem, mas a recíproca não é verdadeira.

Judiar e castigar inocentes, além de ser uma grande injustiça, constitui a prática de um delito, de um crime abominável, de uma aberração, de pura imbecilidade. Quem assim age, merece ter como resposta a aplicação da legalidade draconiana, ou quem sabe, a punição baseada no código de Hamurabi*.

O ser humano se julga dono do planeta e de tudo que nele existe. Ledo engano, meu camarada! No período Jurássico, os dinossauros viam a terra como sua casinha. Dada a sua força descomunal passavam por cima de todos. A natureza se revoltou e os exterminou para sempre. Hitler quis dominar o mundo e o mundo deu-lhe o troco. Assim devem sentir-se aqueles que maltratam pequenos e pobres animais que, sem comida e sem teto, vagam sem destino pelas ruas de Catolé.

Ao abordar esse tema, é impossível deixar de mencionar alguém que só tendo nome de santa: a santa protetora dos olhos. Ela teve a visão de enxergar em muitos dos nossos semelhantes a ausência total de sensibilidade. Tocada pelo espírito de caridade, a Sra. Luzia Torres Brasil teve a brilhante idéia de fundar a APAC – Associação de Proteção dos Animais de Catolé. A instituição tem a maior credibilidade que se possa imaginar. Sua regulamentação cumpriu religiosamente todos os ditames legais: tem personalidade jurídica, que é consequentemente contar com CNPJ, registro cartorial, sede, endereço, regulamento, estatuto, objetivo definido e um batalhão de voluntários, que com ela decidem abraçar a causa, que deve ser de todos. Luzia é a grande referência, é o porto seguro dessa luta. A ela rendemos nossa sincera homenagem e votos de respeito e profunda admiração. Deixa seus afazeres e repouso do seu lar para assumir uma missão. A motivação maior é seu reconhecido sentimento de solidariedade. È o amor pelos que sofrem e a vontade de servir aos que necessitam.
Luzia Torres Brasil
Estamos a conclamar os que têm misericórdia para engrossar as fileiras APAC. Concentremo-nos em torno de uma luta que não pode parar. Façamos apelo à generosidade de alguns para não machucar nem agredir os animais. São criaturas que também têm o direito de viver e a liberdade de ir e vir pelas ruas de Catolé.


Catolé do Rocha, 26 de junho de 2011

*Antigo conjunto de leis provavelmente elaborado pelo rei da primeira dinastia babilônica, Hamurabi, por volta do ano 1700 a.C. Baseado na Lei de talião “olho por olho, dente por dente”, para cada ato fora da lei haveria uma punição, que acreditavam ser proporcional ao crime cometido. 


ALVES, J. Crônica Cão Sem Dono. Sertão Nosso, Catolé do Rocha, p.2, Nov. 2011. 



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