Toda morte, seja para a criança
ou adulto, gera um sentimento de tristeza e desamparo. Para os pequenos, a
situação costuma ser pior: a capacidade de aceitar a morte de um animal de
estimação ainda não está bem elaborada e, quanto maior a conexão com o bichinho,
maior será a necessidade de acolhimento e explicação dos pais.
Segundo Ivete Gattas, psiquiatra
da infância e adolescência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), se o
sentimento de luto que surge após a perda do animalzinho não for explicitado, a
criança pode ficar sem saber como lidar com a dor. “Independentemente da idade,
alguma compreensão deve ser passada”, afirma. É preciso estar atento aos sinais
dados pela criança. “As mais novinhas irão mostrar os sentimentos chorando ou
pela dificuldade para dormir, por exemplo. As mais velhas já terão mais
capacidade de falar do que aconteceu”, completa.
Se a criança tiver menos de sete
anos, por exemplo, é provável que seja necessária uma explicação mais leve,
falando que o bichinho foi para o céu com outros bichinhos ou virou uma
estrela. Se ela for mais velha, no entanto, é preciso explicar a ela com mais
objetividade. Mas, de acordo com a psicóloga especialista em comportamento
infantil e adolescente, Maria Cristina Capobianco, a delicadeza nesta hora é
muito importante: “Quanto menor a criança e mais apegada ao bichinho ela for,
maior é o cuidado que os pais devem ter”, completa.
Para que tudo fique mais bem
resolvido na cabeça da criança, Gattas explica que a morte do bichinho deve ser
valorizada. “Se o peixe do aquário morre, por exemplo, e os pais jogam o
bichinho pela privada, isso demonstra uma forma muito superficial de lidar com
a situação e a criança não elabora essa perda da melhor maneira possível”,
explica. Os rituais posteriores à morte existem justamente para que haja a
realização da perda, portanto, enterrar o bichinho é uma ótima atitude.
As crianças podem ver a morte do
bichinho de estimação de maneiras bem diferentes. De acordo com Capobianco,
algumas crianças podem achar que a morte do pequeno amiguinho aconteceu por
algo de errado que ela fez. “É importante que ela não se sinta culpada pela
morte, que ela aprenda a discriminar isso”, afirma. Para a especialista, isso
pode acontecer se a família tiver o costume de colocar a culpa na criança
quando algo dá errado no dia a dia.
Além disso, outro aspecto que
pode surgir para a criança é que, quando ela começa a perceber o significado da
morte do animal, começa a ampliá-la para suas outras relações. “Elas vão
questionar que, se o animal morre, ela e os pais também podem morrer”, explica
Capobianco. “Então, um leque enorme de sentimentos pode aflorar”, completa.
Embora alguns pais tenham a
sensação de que arrumar um substituto é um jeito da criança esquecer logo a
morte do bichinho, esta não é a melhor saída. Para Gattas, são as perdas
menores que sofremos ao longo da infância que nos treinam para a vida adulta.
“Se não respeitarmos o momento de sofrimento da criança e o anularmos com outro
animal, ela não terá a possibilidade de elaborar o sentimento”, afirma a
psiquiatra.
Capobianco ainda conta que,
comprar outro bichinho logo após a morte do primeiro acaba se tornando uma
válvula de escape, e não dá tempo da criança aprender sobre a morte. “A criança
pode acabar desenvolvendo o comportamento parecido ao de pessoas que bebem
muito ou vão às compras quando estão deprimidas”, explica. No entanto, conta
que após três ou quatro meses, se a criança se interessar, é uma boa ideia que
ela escolha outro bichinho. Mas é importante lembrá-la dos bons momentos que o
animal anterior proporcionou e que nenhum deles é substituível.
Quando a morte do animal não é
bem elaborada, a criança pode ficar mais agressiva, perder o entusiasmo ou até
se recusar a fazer coisas que antes fazia normalmente. “Cada um tem o seu
ritmo”, explica Capobianco. A especialista alerta que, neste momento, é uma boa
ideia também conversar com os professores da escola sobre o assunto. “Pode ser
que a criança não fique bem na escola, então é legal que o professor a acolha e
até converse sobre a situação com ela”, completa.
Fonte:
http://canilvandogs.com/2011/09/08/como-lidar-com-a-perda-do-pet/